NÃO FILMAR ATENDIMENTOS DA OBRA DA PIEDADE
Em hipótese alguma, podemos filmar ou fotografar os atendimentos e publicar nas redes sociais, inclusive nos casos de entrega de instrumentos musicais. Encontramos no Evangelho, escrito em Mat.6,2 "Quando pois deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão."
USO DA INTERNET PELA CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL
A Congregação Cristã no Brasil não se serve de ferramentas e ou aplicativos da Internet para qualquer tipo de propaganda da instituição. Em nossas comunicações, utilizamos o site oficial para apresentar à irmandade circulares, avisos, documentos e pontos de doutrina - assuntos de interesse comum, que são assinados digitalmente por intermédio de QRCode pelo Conselho dos Anciães Mais Antigos do Brasil.
A CONGREGAÇÃO CRISTÃ não faz qualquer tipo de propaganda de sua doutrina, nem se utiliza de qualquer meio de divulgação pública de seus princípios de fé. Quem tiver interesse espiritual de conhecer sua doutrina deverá frequentar seus cultos em qualquer de suas igrejas.
As primeiras missões pentecostais no Brasil foram feitas pelos italianos Luigi Francescon, em São Paulo e Paraná, formando a Congregação Cristã no Brasil (CCB) e em 1910, com missionários suecos no Pará, dando origem à Assembleia de Deus (AD) em 1914 (Araújo, 2007).
Foi revelado para dois jovens suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, que suas pulsões evangelizadoras deveriam encontrar uma terra chamada Pará. Movidos pelo Espírito Santo, chegaram em Belém em 1910, sem provisões, contatos ou conhecimento da língua portuguesa. Para sobreviver uniram-se à Igreja Batista local, que encontrava-se em um período instável. A dupla começa a lucrar com a colportagem, como os assembleianos chamam o ato de distribuir publicações de conteúdo religioso. De acordo com o apanhado histórico de Araujo (2016), Berg espalhou durante os primeiros três anos 2 mil bíblias, 4 mil Novos Testamentos e 6 mil unidades dos Evangelhos. Assim, conquistam relevância na cena religiosa de Belém e, em 8 de junho de 1911, a irmã Celina de Albuquerque torna-se a primeira brasileira a receber o batismo no Espírito Santo durante um encontro do grupo que futuramente se chamaria de Missão da Fé Apostólica, e posteriormente Assembleia de Deus. Os Missionários pregavam o evangelho dando ênfase a curas divinas, batismo no Espírito Santo e falar em línguas.
Já no Sudeste, as ondas de imigrantes estrangeiros em busca de melhores condições de vida atraem o italiano Luigi Francescon para São Paulo. Originalmente prostestante presbiteriano, Francescon cria a Congregação Cristã no Brasil, nova religião que adquire adeptos nos bairros operários, como Brás, Barra Funda e Bom Retiro (Monteiro, 2010). Foi o responsável por semear na cidade a espiritualidade carismática que teve contato durante sua passagem pelos Estados Unidos.
Tais agrupamentos eram marcados pela convivência multicultural entre os moradores, principalmente dentro da religião: os cultos, os hinos e a pregação eram realizados em italiano. Esse detalhe revela a principal característica da denominação, marcada pelo isolamento em relação ao mundo exterior, crendo na separação total entre Estado e religião e com esforços para manter-se apolítica até os dias de hoje.
Desde o início, São Paulo se constituiu num pólo difusor da nova doutrina, que seguiu, a princípio, pelos estados da região Sudeste. Minas Gerais abriga o segundo maior número de templos da CCB com 7184 templos, segundo levantamento da própria instituição, atrás apenas de seu estado de origem.
Diferente da maioria das práticas pentecostais, a CCB não realiza cultos ao ar livre, praças e locais públicos, proíbem campanhas de evangelização, assim como a impressão de folhetos ou distribuição de mídia eletrônica. Por não possuírem nenhum tipo de publicação ou material evangelístico direcionado ao público externo, a construção dos templos é a forma mais consistente de expansão. Os edifícios da Congregação são facilmente reconhecidos por sua padronização espacial sóbria, ainda bastante influenciados pelo ascetismo das igrejas protestantes tradicionais, que de acordo com Rubem Alves (1979) buscavam se opor à dimensão contemplativa e visual da experiência católica.
São edifícios retangulares, de linhas simples, grandes janelas verticais e com frontão destacado que anuncia o título CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL em letras grandes. Algumas unidades diferenciam-se por características particulares por demandas do espaço (como igrejas flutuantes na Floresta Amazônica) porém todas são externamente revestidas em cinza. O interior é obrigatoriamente despido de adornos, com paredes claras e bem iluminado (Monteiro, 2010). Os bancos são dispostos em fileiras com corredor central direcionando para o púlpito, composto por uma tribuna, uma bíblia e duas cadeiras encostadas ao fundo. O único sinal gráfico é a frase EM NOME DO SENHOR JESUS em destaque sobre o púlpito e na frente da tribuna.
De acordo com Monteiro (2010), a gestão da CCB é simples e centralizada. Conta com uma rede de ofertas voluntárias e anônimas denominadas “coletas”, que diferenciam-se do dízimo pela não obrigatoriedade. Não comercializam bens ou objetos sagrados, como óleos ou águas ungidas, apenas bíblias, hinários e véus (vestuário obrigatório para as mulheres). A renda recolhida visa sustentar a ação filantrópica “Obra da Piedade”, viagens missionárias e a construção de novos templos.
Em vez de retornarem para a própria comunidade, as ofertas são centralizadas regionalmente. Tal organização possibilita a construção de novos templos em pontos da cidade sem recursos próprios para a edificação de uma unidade. Ou seja, os fiéis de bairros já dotados de templo viabilizam a compra de terreno e a construção de outros edifícios em diferentes localidades, principalmente em territórios de baixa renda. A padronização arquitetônica facilita a produção em cadeia desse esquema, além de democratizar a experiência religiosa entre classes sociais e gerar o sentimento de pertencimento: todos os templos pertencem a todos os fiéis, pois sua existência depende da colaboração e participação do coletivo.
A CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL E SEUS BENS PATRIMONIAIS
Considerando-se não ser nosso objetivo o acúmulo de riquezas temporais, reiteramos à irmandade nosso princípio firmado desde o início, constante no Estatuto: Art. 14. Em caso de cisma ou separação, o patrimônio permanecerá com a Congregação Cristã no Brasil, não assistindo qualquer direito ao grupo que dela se separar. Art. 15. Não mais havendo irmandade numa localidade ou por conveniência administrativa, a critério da reunião prevista no art. 32 deste Estatuto, a pessoa jurídica e seu patrimônio serão incorporados à Congregação Cristã no Brasil indicada nos atos de incorporação. Art. 16. Dar-se-á a extinção da Congregação Cristã no Brasil quando for comprovado que não mais existam fiéis que sigam a mesma Fé e Doutrina, em todo Território Nacional. Dissolvida a Congregação Cristã no Brasil, far-se-á a sua liquidação de conformidade com as leis em vigor, destinando-se o seu patrimônio a asilos, orfanatos, escolas e hospitais públicos.
A maior característica da CCB é a tentativa de construir uma rede analógica alheia às influências mundanas, o que baseia seu espaço sagrado e seus ritos calcados na norma de costumes.
“Para um crente, essa igreja faz parte de um espaço diferente da rua onde ela se encontra. A porta que se abre para o interior da igreja significa, de fato, uma solução de continuidade. O limiar que separa os dois espaços indica ao mesmo tempo a distância entre os dois modos de ser, profano e religioso”. (Eliade, 1992, p. 28)
Não são permitidas palmas, mulheres e homens sentam-se em lados opostos, não seguem calendário litúrgico e são orientados a não participarem de festividades e até mesmo comemorações religiosas como Natal e Páscoa. Maior flexibilidade aparece apenas na espontaneidade dos cultos, que não apresentam estrutura preestabelecida, guiados por algum membro do ministério que se sinta capacitado pelo Espírito Santo.
Do seio de uma denominação com teologia e espaço marcados pela unidade e padronização, os ritos e performances ali existentes podem apenas seguir diretriz parecida. A corporeidade existente na CCB é experienciada coletivamente. Nos bancos da CCB, só há uma diferença entre os fiéis: o gênero. Homens do lado esquerdo, mulheres de véu no lado direito, e no caso privilegiado da unidade central belo-horizontina, localizada no Cachoeirinha, são separados na nave por uma orquestra afinada. Estão ali pois o culto é inteiramente entrecortado por hinos determinados pelo público com base em um livro encadernado em couro preto chamado Hinos de Louvores e Súplicas a Deus, hinário oficial da congregação. São músicas numeradas, com estrutura semelhante, estilo quase parnasiano, cantadas em uníssono sobre uma base orquestral.
A condenação de manifestações espirituais calorosas é tão basilar para essa denominação que o tema apareceu na fala de abertura de um dos cultos de domingo na CCB em que participei. Entre as músicas, houveram orações, testemunhos sobre o poder da evangelização, como a conversão de dois feiticeiros, e discursos sobre a importância de um louvor comportado, sutil, elegante e modesto, claramente reflexo do distanciamento estabelecido pela CCB em relação a outras pentecostais (classificação recusada por eles). Nesse caso, o corpo é tensionado e tocado pela sensação de integrar uma massa normativa, exemplarmente pura, amalgamada pela voz sobreposta aos instrumentos, todos reunidos sob um teto igualmente pasteurizado.
O espaço, assim como todas as produções estéticas da Congregação, baseia-se numa visão segregacionista de mundo terreno e vida espiritual. Para ser digno de experimentar a santificação, é necessário a concepção de um estado de anomia materializado. Essa doutrina é compartilhada por todas as denominações pentecostais, mas a Congregação Cristã no Brasil mantém-se distintamente fiel aos ideais de isolamento, que mantém-se como uma igreja que pouco utilizou das ferramentas da industrialização e neoliberalização para potencializar sua existência.